março 09, 2008

As corridas dos Carrinhos de Rolamentos


O Verão de 1977 apresentou-se como dos mais quentes até então.

Depois de terminado a ano escolar e como tive bom aproveitamento, os meus pais deram-me liberdade para poder brincar, e os estudos só estariam de volta, já no 1º ano do secundário, em Setembro.

Para mim e para muitos dos meus amigos, aquele verão foi fantástico.

A diversão era diária, as brincadeiras eram sempre melhores que as do dia anterior, e a nossa imaginação era constante.

Num terreno que havia meio abandonado, lá no nosso bairro, e onde antes era uma horta, tinha surgido um matagal, mal se via a terra e onde os lagartos e os ratos tinham tomado aquele espaço como seu, fizemos lá um novo campo de futebol, com marcações e balizas de madeira.

Este espaço era muito maior que o anterior e à sua volta nada existia senão mato e rochas.

Que jogatanas ai se fizeram até o suposto dono aparecer e deitar tudo por terra.

Foi nesse ano em que eu fiz o meu 1º carrinho de rolamentos.

Os rolamentos foram pedidos numa oficina de carros que havia na Abelheira, e que eram para ser deitados para o lixo.

Com umas madeiras "gamadas" numa obra prós lado da escola, e umas velhas borrachas de pneu de carro, montei uma verdadeira máquina de rolar.
Arte e engenho feita à base de muita lata e ferro-velho, acessórios de automóveis e motociclos, madeira e até a recuperação de utensílios da lavoura.
A imaginação e criatividade não tinham fronteiras, pelo que, os carrinhos de rolamentos eram autênticas obras de arte.
Hoje, mais que uma herança cultural, uma manifestação genuína de costumes ancestrais que resistem no tempo.
Que orgulho tive eu naquele carro, e que bem ele andava, fazendo com que eu nunca fizesse má figura nas corridas.

Quem não gostava nada eram os nossos pais, pois as provas eram disputadas numa rua lá do bairro, que sendo inclinada fazia os carros andar muito bem.
Quando eles souberam que os filhos tamanha loucura faziam, pois o perigo dos carros usarem a rua era grande, davam-nos cada ralhete que até as orelhas tremiam.
No dia em que o meu pai descobriu o meu carro, a fogueira não teve contemplação e nas suas labaredas vi aquela maravilha ser toda consumida pelo fogo.
Ainda hoje choro esse dia

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