março 31, 2008

Putos armados aos "Pingarelhos"

Para a malta, chegados ao 7º ano, já nos considerávamos os maiores, e sendo o máximo que a escola tinha, pois para o ano teríamos que mudar de local, ninguém se poderia por contra nós.

A turma onde eu estava colocado, tinha meia dúzia de alunos repetentes, e esses eram 1 ano mais velhos que a maioria. Já tinham 14-15 anos.

Eu tendo escolhido a área de Electricidade, a maioria da turma eram rapazes, só tínhamos 7 raparigas, em 30 alunos.
Eu gostava dos trabalhos eléctricos, sendo complexo e muito exigente em termos de matéria, as aulas práticas eram fascinantes.

Chegado a esta fase escolar, as matérias eram mais difíceis e os devaneios extra-escola chamavam por nós.

As nossas aventuras passadas à beira da linha de comboio, que na altura não tinha os acessos vedados, a fumar tabaco dos velhotes, Mata Ratos e Kentucky, e a beber cerveja comprada no Minipreço pelos mais velhos.
Não havia aquele problema da idade, qualquer um poderia comprar.

Acho que a minha experiencia de fumar aquela porcaria, fez com que nunca fosse fumador. Achava que aquilo não seria nenhum prazer.

É verdade que naquela altura nunca apanhei nenhuma bebedeira daquelas a sério, mas que o raio da cerveja batia, ai isso batia e que bem corriam as aulas depois disso.
Os professores nunca desconfiaram de nada. Eles não deveriam imaginar tamanha loucura.

março 29, 2008

A minha Bicicleta

As férias de verão corriam sempre em grande aceleração e dentro das brincadeiras que a malta gostava, havia uma que era do agrado de todos.

As corridas de Bicicleta.

Eu tinha uma trotineta vermelha, e era com ela que me divertia, mas sendo já crescido gostava de ter outra coisa mais evoluída.

Como prenda da minha passagem para o 7º ano, os meus pais deram-me uma Bicicleta. Uma Caloi Berlineta.

Que prenda mais fantástica, e como eu adorei o dia em que a fomos buscar a Lisboa, uma loja que havia ali na Almirante Reis, ao pé do Banco de Portugal.

Ela era verde, e ao meio tinham uma tranca que permitia dobrar a bicicleta, para assim ser mais fácil o seu transporte de carro.

Há uns anos trabalhei lá perto e ainda existia essa loja, mas hoje em dia é um Restaurante.

Como dizia, grandes brincadeiras e corridas nós fazíamos com as nossas "bikes". Estrada acima rua a baixo saltar montes e derrapar com o pneu traseiro.

Para dar mais estilo, eheheeh os miúdos são terríveis, púnhamos umas cartas das de jogar, presas com molas nos raios da roda de traz, e aquilo parecia um barulho de mota.

A minha mãe ADORAVA ver-me ao fim do dia com as calças cheias de óleo da corrente e braços e mãos negros como o alcatrão da estrada.

Corríamos algum perigo, pois íamos a pedalar pelas estradas até Sintra, circulando ao lado de carros.

Eu acho que os nossos pais nunca souberam destas loucas viagens. Para eles andávamos sempre por ali perto.

março 27, 2008

Vamos pra praia


As férias tinham chegado, e haveria de se recarregar as energias de um ano atarefado.

Era a altura em que o Dartação andava em grandes aventuras televisivas, e os mosqueteiros era uma das brincadeiras dos putos lá da rua.

O meu pai folgava ás Terças e Quartas feiras, e eram esses os dias em que nós aproveitávamos para ir á Praia.

Era bom, porque sendo dias de semana havia sempre muito menos pessoas que aos fins de semana.

Os areais das praias eram extensos para tão poucas pessoas. Assim era possível poder jogar a bola com mais descontração e segurança.

Aprendi a nadar com uma bóia amarela e branca que me foi oferecida pelo meu tio, quando tinha 8 anos. Foi uma prenda de passagem da 2ª para a 3ª classe.

Nesse verão de 1980 já não a tinha, de tanto uso que lhe dei, arrebentou numa tentativa de defesa dentro de agua.

Nessa altura os meus pais gostavam de variar nos locais de ir a banhos, desde a Torre, Carcavelos, passando pelo Estoril e Cascais, Praia Grande e Maças.

Também íamos até a Caparica, e Fonte da Telha. Lembro-me também de algumas vezes irmos até ao Portinho da Arrábida, Galapos e até a Tróia.

Naquele tempo, a praia durava o dia todo, pois com a bela da geleira debaixo do braço, umas cadeiras e mesa e um fogareiro, a coisa rendia.

O dia começava bem cedo, pelas 9 horas e chegávamos lá pelas 18 horas.

O que eu não gostava nada era da sesta depois do repasto.

Ora sendo puto queria era saltar e subir ás arvores, que de poiso serviam ao nosso saltimbanco momento veraniano

março 25, 2008

Chico Fininho

Em 1980, o panorama musical estava a mudar, e a malta mais nova era a imagem dessa revolução.
Novos grupos e cantores a solo, iniciavam um estilo de música que se veio a tornar uma lufada de ar no meio musical Português. o Rock and Roll.

Gingando pela rua ao som do Lou Reed
Sempre na suaSempre cheio de speed
Segue o seu caminho Com merda na algibeira
O chico fininho O freak da cantareira
Chico fininhoUuuuuuh uuuuuuh
Aos sss pela rua acima
Depois de mais um shoot nas retretes
Curtindo uma trip de hero'na
Sapato bicudo e joanetes
A noite vem já e mal atina
Ele é o maior da cantareira
Patchuli borbulhas e brilhantina
Com lica escorbuto e caganeira
Chico fininhoUuuuuuh uuuuuuh
Sempre a domar a cena
Fareja a judite em cada esquina
A vida só tem um problema
O ócido com muita estricnina
Da cantareira á baixa
Da baixa á cantareira
Conhece os flipados
Todos de gingeira
Chico fininhoUuuuuuh uuuuuuh

Todos nós tínhamos escrito numa folha de linhas a letra toda.
A minha folha de tanto ler e cantar, ficou bastante mal tratada AHAHAHA.

Num sábado, às 14h ia dar na televisão um conserto, o primeiro, do Rui Veloso.

Nesse dia tínhamos aulas até a essa hora, por isso pedimos ao professor se nos deixava sair 10 minutos mais cedo para podermos chegar a casa e poder vê-lo.
Muito corri eu pelas ruas acima até casa dos meus pais.

Esse dia ficou memorável e ainda hoje recordo-o.

Molha Pão

Com a chegada do calor da primavera as aventuras iam para além da escola.

Nos intervalos das aulas, furos ou nas faltas de professores, a malta gostava de sair da escola e um dos locais escolhidos era o rio que passa junto a escola e que já vinha de Meleças. Ribeira das Jardas.

Era costume andar a apanhar peixinhos com redes, apanhar rãs e cobras de água.

Havia um campo de futebol com balizas a sério em Meleças, onde os putos costumavam também jogar.

Depois das jogatanas era correr até ao rio que passava perto, para dar grandes mergulhos e banhos refrescantes nas aguas que naquele tempo ainda corriam limpas e seguras.
Não havia melhor brincadeira do que essas.

Estávamos sempre na ansiedade de algum tempo livre para ir para lá.


Um dia, depois de uma manhã de sábado (nessa altura havia escola ao sábado até as 14H) sem aulas, tivemos que vir a corre para a aula das 13h, depois de grandes brincadeiras num grande tanque de rega numa quinta na Tala, o Molha Pão.


O tempo apesar de ter estado quente não foi suficiente para que todos nós chegássemos secos a aula.

A professora perante tamanha falta de respeito, mandou todos os que prevaricaram, para a rua com falta a vermelho.

Aquilo custou muito às minhas pequenas orelhas, quando a minha mãe soube do sucedido.

março 20, 2008

O Franciu

Passavam os dias e ainda tinha na mente o 1º beijo que tinha recebido da Maria João.

Ela continuava a ser a mais desejada da minha turma, pois sendo a única a dar beijos na boca, as outras miúdas eram quase sempre postas de lado, no que tocava a convites.

Depois desse momento mágico, ainda tive sorte em mais 3 ou 4 beijos em dias posteriores, mas o pior estava para acontecer, se é que se poderia considerar pior ou antes desgraça.

Na turma havia um rapaz, 1 ano mais velho que nós, o Fernando, que vivia em casa de uns tios, pois ele viera de França, onde os pais estavam emigrados.

O tipo para a época, e além de ser mais velho, estava muito a frente no que respeitava a vestir-se, pois trazia de França roupas modernas e que por cá pouco se viam.

Calças e casacos de cabedal, t-shirts modernas e coloridas e ténis da Le Coq Sportif.

Nos primeiros dias, ele era acanhado, e participava pouco, mas depois mudou e tornou-se mais companheiro, apesar de não jogar a bola.

O cabelo dele era louro (derivado da pintura com agua oxigenada ahahaha) e aquilo funcionava com as miúdas.

Elas andavam todas malucas por ele.

Isso deixou nos restantes rapazolas da turma uma tal frustração por não serem os eleitos das miúdas.

No Bate Pé ele era sempre bem aceite pelas participantes do sexo feminino e recebia só beijinhos na cara.

Mas o que não queríamos que acontecesse, aconteceu.

A Maria João ficou a gostar dele, e ficaram namorados. A partir desse dia, ela não deu mais beijos na boca a ninguém. Só para ele.

março 19, 2008

O meu primeiro Beijo na boca

Quase todos os intervalos eram aproveitados para jogar o Bate Pé.
Beijinho ou prisão?

Rapazes como nós já com as hormonas activas, desejavam poder um dia chegar ao beijo de uma rapariga. Por aquela altura, a coisa era menos fácil, do que hoje em dia o é.


Elas ligavam-nos pouco e nós também, vendo bem as coisas, só interessava brincadeiras de rapazes.

A maioria das miúdas só dava apertos de mão e 1 beijinho na cara. 2 beijinhos na cara já era um luxo.
O prémio maior era o beijo na boca, mas isso com as miúdas da minha turma era tão raro que só uma, a Maria João, o fazia, e só alguns tinham esse privilégio.

Eu ao princípio era um dos renegados.

Nós os outros, os excluídos do prémio máximo dessa Diva, ficávamos todos com uma raiva dos 2 ou 3 betinhos que tinham essa sorte, que no jogo da bola iam para a baliza. Tomem para aprender.

Quase todas as turmas jogavam, e a malta falávamos com outros rapazes para saber quem eram as miúdas que davam beijos na boca. Era cá uma galderice, gaiatos.

Dia após dia, a ânsia de um dia poder ser beijado na boca pela Maria João ou por outra miúda que entretanto pudesse ceder, deixava-me maluco.

Até deixávamos de fazer outras coisas, para ver se a sorte sorria.

Um dia, acho que seria já por alturas da primavera, e após insistência, ela aceitou o meu pedido e acho que nessa hora um buraco no chão se abriu.

As pernas tremiam que nem varas verdes, e o medo de não saber como fazer, fez com que o encostar dos lábios um no outro fosse a coisa mais maravilhosa que eu já tivera.
Esse momento durou para ai 1 segundo, mas pareceram horas.

O sangue corria a 1000/hora e o tremelicar das pernas prolongou-se por muito tempo, fazendo com que eu nesse resto de dia, não tivesse mais atenção ao resto das aulas.

Acho que fiquei apaixonado... se é que essa palavra se possa aplicar a miúdos de 11 anos.

Vamos jogar ao Bate Pé

O ritmo das aulas era bastante diferente da primária, horas atrás de horas, entra e sai em salas de aula, vários professores, diferentes disciplinas, muitos miúdos e alguns namoricos.

Tinha algumas disciplinas preferidas, entre elas História, Ciências da Natureza, Trabalhos Manuais e Ginástica.

Como língua estrangeira escolhida, fui para Francês. Não sei bem porquê, mas na altura era a mais escolhida entre a malta.

Ainda hoje não percebo porque é que era-mos obrigados a ter Religião e Moral.

Um dos professores odiados era o de Música.


O Senhor era terrível, e usava uma ponteira para dar uns soitos nas mãos da malta, quando saia um Lá em vez do Dó.

Há 4ª feira, como só havia 1 hora de almoço entre a aula de Ginástica de manhã e a aula da tarde, Português. Nesses dias alguns de nós levavam o almoço, na marmita, e comíamos na escola.

Muito raramente os comes e bebes chegavam inteiros a hora de os comer, pois eram tantas as boladas que as malas sofriam quando eram usadas como postes de baliza, bem como os trambolhões que lhes dávamos.

Cheguei a ter o leite todo derramado dentro da mala, deixando os livros e cadernos numa lástima.

As mães sofriam um pouco connosco.

Nos intervalos, além da bola que não se podia praticar quando os campos estavam ocupados, jogava-se a mata, rebenta, ao lenço e a um outro jogo que na altura surgiu e que deixou todos nós malucos. O BATE PÉ

março 18, 2008

Chegei a Secundária

Acreditava que aquelas férias seriam irrepetíveis, e que com a chegada de uma nova etapa escolar, as coisas iriam mudar para os miúdos do meu bairro.

Os gaiatos tinham-se transformado em pequenos adolescentes em que começa a despertar a idade de toda a irreverência.

Que saudades tenho dessa escola, a António Sérgio.

Alguns amigos, que me tinham acompanhado desde a 1ª classe continuava-mos todos juntos na mesma turma, 1º ano Turma C. O meu número eram o 25.


A minha turma, tinha as aulas de tarde, só as 4ª é que havia 3 horas de manha, 1 hora de Religião e Moral e 2 horas de Ginástica. Ahahahaah, depois de uma ida ao céu, jorrava-mos suor a potes de tanto correr.

O Vítor, o Jacinto, o Cabrita, o Rogério, o Luís, e acho que havia mais 1 ou 2, mas não me lembro do nome deles. Naquela altura, os rapazes brincavam pouco com as raparigas, outros tempos, por isso das miúdas não sei mesmo o nome das que também ficaram na mesma turma.

No primeiro dia da escola, fui com os meus pais, todo aprumadinho e com a mochila cheia de material escolar.

Nós que tivemos poucos livros na primária, agora era 1 por cada disciplina, e elas eram 10, fora os cadernos, lápis, canetas, compasso, réguas, esquadro, sem esquecer também os ténis, calções e camisola de ginastica.


Como seria toda esta gestão de material, para putos como nós que de organização pouco tinham e adoravam era a bola e correrias.

A apresentação foi feita na 1ª aula, de Português, onde o Director de turma deu as boas vindas a todos e desejo de bons estudos. Umas atrás das outras, as aulas que tínhamos para esse dia, foram todas de apresentação.

Novos colegas conheci, e nessa noite à mesa de jantar a conversa era só uma... O meu primeiro dia da Secundária

Pai Herói

Quando o meu pai comprou o seu primeiro carro, tornou aquele dia como dos mais importantes e ficou na nossa memória para sempre.


O Morris 1300 era lindo, todo azul, e apesar de ser em 2ª mão, ainda cheirava a novo.
Os estofos por dentro eram pretos, e eu sentado no banco de traz sentia-me importante.

O meu Pai tinha-o comprado num stand em são Pedro de Sintra, mesmo em frente a famosa pastelaria, a Casa do Preto.

Lembro-me que antes de o irmos buscar, comemos umas queijadas. Quem boas elas são.

A primeira viagem que fizemos, foi seguir-mos em direcção a Sintra, e seguir pela estrada da Praia das Maças. Ai paramos um pouco, e depois seguimos para casa.

O carro andava muito, e para um miúdo era o sonho de brincadeiras pequenas, tornada realidade por gente grande.

A minha mãe tinha tricotado 2 almofadas para colocar por cima da bagageira e o meu pai tinha pendurada uma bandeirinha do nosso glorioso, no espelho retrovisor.

AHAHAH era a moda da altura, apesar de ainda hoje alguns terem essa decoração.

Foi uma tarde de final de verão muito divertida e que me deu um prazer enorme.

A destreza que o meu pai tinha para domar aquela "fera" deixou-me muito orgulhoso dele.
Foi o meu PAI HERÓI.

março 17, 2008

O apanha Pára-Quedas voador

As diversões eram criadas com mestria de quem pouco tinha e muito desejava.

Nós, cada dia que passava, inventávamos coisas novas para criar brincadeira, e nessa incrível sucessão de ideias, surgiu uma que era bestial. O pára-quedas.


Nas traseiras, tinham surgido umas garagens feitas de madeiras, e telhados em placas de zinco.

Alguns moradores, o meu pai foi um deles, tinham esses espaços para guardar o carro e para armazenar algumas tralhas, que em casa ocupariam espaços preciosos.
O meu pai tinha comprado o seu 1º carro, e como andava todo cuidadoso com ele, tratou de arranjar este espaço para o guardar.

Nesse final de verão, o prédio onde morávamos estava a ser pintado, pois algumas rachas apareceram e o construtor teve que fazer obras.

Os andaimes que foram utilizados para a pintura do prédio, servia para grandes aventuras alpinistas, arrojadas subidas que para qualquer pai deixaria os cabelos mais do que em pé.

A malta esperava que os trabalhadores acabassem o dia, para depois aventurarmo-nos nessa loucura.

Numa dessas loucuras, e voltando a história dos pára-quedas, a malta recortava num plástico um circunferência grande, e com pequenos cordéis atados a um boneco, fazia-se a diversão.

Depois era lança-los ao ar e lá vinham eles em queda até ao chão. Claro que quando mais alto melhor eles caiam.

Que melhor altura para se lançar, do que no cimo dos andaimes. Grandes lançamentos se faziam.

Ora como vinham de grande altura, iam cair longe, e por vezes aterravam em cima dos telhados das garagens.

Miúdos, pequenos e traquinas como nós éramos, íamos lá para cima tentar apanha-los. Numa dessas tentativas de defesa, eu tentei armar-me em Bento(guarda redes do meu Gloriosos), e pimba, grande traulitada numa perna que me marcou com um corte que ainda hoje têm cicatriz.

março 09, 2008

As corridas dos Carrinhos de Rolamentos


O Verão de 1977 apresentou-se como dos mais quentes até então.

Depois de terminado a ano escolar e como tive bom aproveitamento, os meus pais deram-me liberdade para poder brincar, e os estudos só estariam de volta, já no 1º ano do secundário, em Setembro.

Para mim e para muitos dos meus amigos, aquele verão foi fantástico.

A diversão era diária, as brincadeiras eram sempre melhores que as do dia anterior, e a nossa imaginação era constante.

Num terreno que havia meio abandonado, lá no nosso bairro, e onde antes era uma horta, tinha surgido um matagal, mal se via a terra e onde os lagartos e os ratos tinham tomado aquele espaço como seu, fizemos lá um novo campo de futebol, com marcações e balizas de madeira.

Este espaço era muito maior que o anterior e à sua volta nada existia senão mato e rochas.

Que jogatanas ai se fizeram até o suposto dono aparecer e deitar tudo por terra.

Foi nesse ano em que eu fiz o meu 1º carrinho de rolamentos.

Os rolamentos foram pedidos numa oficina de carros que havia na Abelheira, e que eram para ser deitados para o lixo.

Com umas madeiras "gamadas" numa obra prós lado da escola, e umas velhas borrachas de pneu de carro, montei uma verdadeira máquina de rolar.
Arte e engenho feita à base de muita lata e ferro-velho, acessórios de automóveis e motociclos, madeira e até a recuperação de utensílios da lavoura.
A imaginação e criatividade não tinham fronteiras, pelo que, os carrinhos de rolamentos eram autênticas obras de arte.
Hoje, mais que uma herança cultural, uma manifestação genuína de costumes ancestrais que resistem no tempo.
Que orgulho tive eu naquele carro, e que bem ele andava, fazendo com que eu nunca fizesse má figura nas corridas.

Quem não gostava nada eram os nossos pais, pois as provas eram disputadas numa rua lá do bairro, que sendo inclinada fazia os carros andar muito bem.
Quando eles souberam que os filhos tamanha loucura faziam, pois o perigo dos carros usarem a rua era grande, davam-nos cada ralhete que até as orelhas tremiam.
No dia em que o meu pai descobriu o meu carro, a fogueira não teve contemplação e nas suas labaredas vi aquela maravilha ser toda consumida pelo fogo.
Ainda hoje choro esse dia

O prémio de Jogo

Para final do ano escolar, já a escola ia longa e aproximavam-se as férias de verão, foi efectuado um torneio de futebol entre as 8 turmas da escola, 4 equipas da 3ª classe e 4 equipas da 4ª classe.

Foi um torneio só para rapazes, apesar de nós termos na nossa classe uma miúda que jogava muito bem, e fazia parte dos que no recreio jogava sempre connosco a bola.
Foi pena ela não poder ter participado.
A malta da minha classe, com ajuda da professora, reuniu 7 jogadores de "elite" do melhor que o mundo da bola tinha na altura, ehehehehe, e com umas camisolas todas brancas, onde foram colados nas costas os respectivos números, pois isto era a sério.

Lá fomos nós disputar durante 1 semana o torneio, no recreio, onde as baliza eram feitas de pedras, pois nessa altura os espaços previamente elaborados para o efeito, eram miragem que só algumas escolas secundárias tinham.

E a nossa escola até era nova, mas acharam que estes "luxos" não eram necessários, para putos como nós.

Os jogos foram disputados com grande vontade de triunfar, com muitas nódoas negras e algumas feridas que a areia do campo de jogo não perdoava a pele sensível de jovens miúdos, mas sempre dentro da lealdade e respeito uns pelos outros.

Apesar de aquilo ser todos ao molho, eu jogava mais lá na frente, como era alto e magrinho corria muito.

Ganhamos uns jogos e perdemos outro, e ao fim chegamos para disputar a final com outra equipa da 4ª classe do turno da manhã.

O jogo foi bem disputado, com golos e emoção, e quando o final chegou, o empate foi o resultado registado.

Tivemos que decidir o resultado, recorrendo aos penaltis, e ai a sorte não esteve do nosso lado.

O prémio de jogo, pelo alcançado 2º lugar, foi uns lápis da Faber, e um lanche de sandes de manteiga e sumos da laranja no fim para todos os participantes.

março 07, 2008

O vira dos Professores

A partir desta altura, estávamos em fins de 1976, em termos escolares, as coisas ainda pioraram mais do que já eram.

Na 3ª classe, tivemos 7!!! Professores.
É verdade, quase todos os meses tinha-mos um novo.

O cumulo foi um deles só ter durado 1 dia, chegou apresentou-se, fizemos meia dúzia de coisas, até amanha disse ele, e a partir do dia seguinte nunca mais apareceu.

Quando se ia um, e antes de vir outros ficava-mos 1, 2 dias na sala dos meninos da 4ª classe.

Os problemas também afectaram estes, e lá vinham eles para a nossa sala.

Dizia a directora, que era o ministério da educação que ordenava a mudança e colocação dos professores.

Foi muito complicado para miúdos que queriam aprender e que foram bastante prejudicados pela situação.

Para nós na altura, claro está não nos importámos, pois queríamos era brincadeira.

Com toda esta situação criada, não poderia haver ninguém que ficasse para trás, pois não havia avaliação possível para os alunos, e assim lá nos encontramos nós todos no Outono seguinte para o início do novo ano escolar, a 4ª classe.

Era o chegar ao patamar mais alto da primária, ao estatuto de miúdo graúdo.

Para nós putos já com 9/10 anos, era uma situação de estatuto que nos dava um ar importante e com autoridade perante os da 3ª classe.

A situação para nós foi menos grave, em relação ao ano anterior, mas mesmo assim tive 2 professores. Nada mau!
O ano correu-me bem, e atingi o objectivo que era acabar a 4ª classe e para o ano lá nos encontraríamos na escola Secundária.

março 05, 2008

A nova Escola Primária

Mais uma férias passaram, novo ano lectivo começou na mesma escola e onde reencontrei os colegas da 1ª classe.

O ano correu normalmente, em que a qualidade de ensino ainda tinha muito a desejar, e com o andar dos meses rapidamente se chegou a novas férias de verão e a novas aventuras por terras longínquas em que o Sandokan era o herói do momento, e que fazia do nosso descampado o paraíso das índias.

Era a altura em que na televisão os desenhos animados eram cada vez melhores e em quantidade, tirando aqueles do Vasco Granja vindos da Rep. Checa, da Polónia, do Cazaquistão e afins, e que para todos nós a Heidi e o Marco serviam para passar as manhas de sábado e do domingo antes da missa e depois da TV Rural, em frente a televisão a vê-los e a fazer novas colecções de cromos.

Em Outubro de 1976, em virtude de aquela escola já ser pequena, e só estar preparada para receber os 2 primeiros anos escolares, a 3ª e 4ª classe foram transferidas para uma nova escola, acabada de inaugurar nesse verão.

A escola ficava ao cimo do bairro onde nós vivíamos, e era o local onde em "batalhas" emocionantes e divertidas dos pequenos petizes, servia de base ao inimigo, que nas "entranhas" das suas obras ai se escondiam.

A entrada nessa escola dos alunos, foi emocionante e com uma grande festa, pois tudo era novo e assim deveria continuar, dizia a directora da escola.

Até a banda dos Bombeiros marcou presença com uma grande fanfarrada ao toque do bombo e das pandeiretas.
Para nós, havidos de descobertas, percorremos os novos espaços na procura de saber onde se poderia por as balizas do jogo da bola, grandes pistas de carros criar, para que o emocionante campeonato iniciado no verão, tivesse continuação e assim apurar o vencedor, que afinal visto bem as coisas, eramos todos.
Nesta escola, tudo era novo e moderno, as secretárias diferentes da escola antiga, eram simples com cadeiras de correr, e tampo creme. O quadro da sala brilhava ao sabor da sua cor esverdeada.
As paredes ainda apresentavam o seu tom branco limpo e sem desenhos e recortes feitos em cartolinas divertidas.
Uma das grandes diferenças em relação a antiga, era que havia uma cozinha, onde o leite que ainda era servido aos alunos era fervido em grandes panelas antes de ser distribuído em copos de plástico a todos nós.
Esta escola tinha 8 salas de aula, 4 no piso 1 para os alunos da 3ª classe e 4 no piso 2 para os graúdos da 4ª classe.
É verdade... já me esquecia de outra grande novidade neste moderno edifício de ensino e com tecnologia que de melhor havia para a altura, uma campainha de entrada e saída das aulas... trimmmmmm.... Modernices!

As minha primeiras Férias Grandes

Os últimos dias de escola, foram passados com emoção e ao mesmo tempo desejos de terminar.

Pouca coisa fizemos relacionado com estudos, aprendi as letras os números a escrever algumas coisas, e pouco mais. O ensino atravessava uma grande confusão.

As aulas iriam ficar suspensas até Outubro, os tempos de brincadeira com os novos amigos e dos trabalhos escolares, mas viriam dias de manhãs fartas em correrias, onde os índios e cowboys andariam atrás uns dos outros, onde no descampado lá do bairro, as fortes balizas de paus queimados revestidas de serapilheiras routas, iriam ser fortemente bombardeadas por potentes remates de jogadores ávidos de gritar... GOLOOOOOO, e tardes quentes de corridas de caricas e jogos do pião.

Que bom seria, voltar novamente aquela canseira... de nada fazer e tudo acontecer.

Dizia-me a minha mãe...são as tuas primeiras férias grande. e para mim isso era algo de novo, e estranho, pois sinceramente a escola não foi assim tão difícil.

Os rapazolas em aventuras destemidas mas muito arreliadoras para as mães, deixavam aquela rua num estado de autentica revolução, onde tudo servia para por em prática novas brincadeiras.

Uma das mais perigosas, mas que nos dava grande prazer era a de imaginárias "guerras" pacíficas praticadas por crianças santas, pois subíamos às grandes arvores e ao telhado do velho palheiro da quinta do Sr. Zé, empunhando fisgas feitas de câmaras-de-ar de pneus velhos e armas toscas em pau de figueira e tábuas das caixas da fruta.

A quinta tinha 2 grandes poços de água para a rega, e depois das "batalhas" a malta bebia água dai. Acredito que aquilo não deveria ser lá muito bom, mas puto é puto, e não se liga a isso. Ainda nos chamavam mariquinhas e isso para um guerreiro não pode acontecer...ahaahaahah

Ao fim do dia, todos nós sentados na margem do lago que se formava lá no fundo da quinta, e onde as rãs em fim de tarde grande alarido faziam, combinávamos novas estratégias para o dia seguinte.

março 04, 2008

Hora do lanche - o Leite


Corria o ano de 1975, já a primavera ia avançada, e com a chegada dos dias quentes em que o sol nos deixava mais alguns minutos de bela-luz, as brincadeiras no recreio da escola eram animadas.
A bola era e será sempre a brincadeira preferida de todos.

A senhora professora tinha-se tornado, com o avanço do tempo escolar, um pouco rude para com miúdos de tenra idade, que na pequenez da idade gostavam de brincadeira.

Ainda apanhei o tempo em que uma régua de pau, era usada em mãos pequenas e desnudadas de maldade. E os truques que nós tínhamos para que aquela coisa pouco magoasse, mas que na realidade o efeito era nenhum.
Desde untar a mão com azeite até lambuza-la com saliva.
Enfim...crianças

No canto da sala, também tinha uma cana-da-índia, que impunha a sua autoridade, desnecessária para tão pequenos "malvados", e que nos ouvidos zumbia, quando na cabeça batia.
Uma das medidas que o estado novo decretou, era que as crianças da escola primária, deveriam todas ter direito a uma refeição na escola. Para nós seria o lanche.

Essa refeição era composta por leite. Só isso!

No intervalo, em fila indiana, todos nós tínhamos direito a uma embalagem de plástico com 1/4 de litro de leite UCAL.

Eram essas as embalagens de leite usadas na altura, e que nós rasgando a ponta punha-mos na boca e pimba, para dentro. Rápido e eficaz.

Hoje acredito que naquela altura, para muitos miúdos era a única refeição que tinham tido depois do pequeno-almoço.
Infelizmente havia muita pobreza e os apoios que se tinham eram poucos.

março 03, 2008

Ora aqui está... Feliz Natal Paulinho

Dezembro, além de ser um mês de Inverno de frio e chuva, também é o mês dos meses, aquele em que as pessoas andam felizes, com vontades e desejos, em que a troco de algumas moedas, se compra aquele miminho para quem nos diz muito.

Em 1974, o poder de compra era baixo, as pessoas tentavam poupar o máximo possível (não será o mesmo que hoje em dia?) e as extravagancias a ter eram controladas, onde o pão e vinho sobre a mesa, já dizia a música, não poderia faltar nem algumas guloseimas, que fariam as delícias das pequenas crianças.

Nessa noite de natal, após muito apelar a forças supremas vindas da Lapónia, o tal Senhor barbudo não apareceu, e triste fiquei, apesar de não termos chaminé em casa dos meus pais, ele poderia ter entrado pela janela da cozinha. Mas não apareceu.

Pensava eu que afinal era tudo uma grande mentira, Pai Natal não existia, e andavam a enganar todos os miúdos lá da minha rua e da minha escola.

Na manhã seguinte, dia de Natal, a surpresa aconteceu, tive aquilo que tanto desejava, uma espingarda lança bolas que deveriam acertar em bocas de ferozes animais vindos da selva, e que na caixa estavam desenhados.

Aquele brinquedo era o sonho de qualquer miúdo da minha idade, em que a maldade do acto estava oculto na inocência da idade.


E claro que Natal não é Natal, se não houver umas peúgas oferecidas pela avó e uma par de cuecas que a minha mãe diz fazerem-me falta.