fevereiro 29, 2008

Gois-Terra de Sonho

As férias para mim não eram nada que desse importância naquela altura, pois isso andava eu sempre.
Brincadeiras atrás de brincadeiras.


Finalmente ia conhecer a terra dos meus pais, por quem eles tanta paixão tem, e que com coração falavam.

Na zona centro de Portugal, beira interior, e distante de ai uns 50 km da capital de distrito, Coimbra, encontra-se a terra do meu pai e a da minha mãe distam uma da outra 3 km. Cerdeira e Carvalhal Miúdo.

As casas antigas de pedra cobertas com telhados de xisto, quartos pequenos onde só a cama cabe, casa de banho inexistentes, para cozinhar as refeições é feita a lareira no canto da cozinha, e lavar as mãos usa-se um lavatório móvel, fazem desta realidade algo que eu não conhecia e para a qual estava a despertar.

Voltei a encontra os meus avós, que no ultimo Natal nos tinham visitado, e que com eles desejava conhecer as cabrinhas, as galinhas e coelhos e os grandes e verdejantes campos onde eles semeavam as alfaces e batatas, plantavam as couves e descobriria que afinal não eram nas bancas da mercearia lá do bairro que elas nasciam.

Conheci novos amigos, que tal como eu, desejavam manhas soalheiras de grandes brincadeiras onde correrias de escondidas, jogos de bola e com paus a imitar carros de bois nos deliciavam a todos.

Tardes abrasadoras, que neste interior do pais deixam correr suor cara abaixo, de banhos refrescantes em água fresca que no ribeiro corria, lá no fim da povoação e onde as trutas saltos delirantes davam para que na nossa imaginação grandes pescas pudéssemos fazer, em que o gafanhoto na ponta do anzol, servia de curiosidade aos Alfaiates (Insectos aquático de pernas compridas).


Os dias corriam felizes e para pequenos miúdos, a festa de verão realizada no adro da igreja, era a oportunidade de o fim do dia poder ser alargada noite dentro com danças e cantares delirantes de vozes afinadas ao sabor do suave calor de verão.

Foram realmente umas verdadeiras férias, que para mim era o iniciar de um ritual anual, que desejoso estava que rapidamente voltassem

fevereiro 28, 2008

Pú Pú... Pouca Terra pouca Terra

Os dias, semanas, meses após a revolução, trouxeram a alegria as pessoas, o povo andava feliz, sentia-se desanuviar o peso de anos e anos de opressão.

Era altura de grandes manifestações, de pessoas que voltavam, depois de anos longe dos seus.

O meu pai dizia-me que foram obrigados a fugir para o estrangeiro, por causa dos senhores que mandavam na polícia, que eram maus.

As traseiras do prédio onde viviam, continuavam a ser palco para grandes brincadeiras de miúdos sem grande responsabilidade, com o jogo da carica, a bola, os pauzinhos, pequenos carrinhos, berlindes a fazerem as delícias de todos nós.

As mães passavam um bocado, pois a malta só queria a rua, roupas limpas e cheirosas vestidas pela manhã chegavam ao fim do dia em estado lastimoso.

Xixi, Banheira, Jantar e Cama, pois os dias eram realmente longos e bem passados.

Naquele ano de 1974, o meu pai tirou as férias para irmos à terra. Para mim era novidade, pois não entendia o que isso era.

Contou-me a minha mãe que eles nasceram num sítio muito longe, e que agora iam lá para ver os meus Avôs e conhecer a casa onde eles viveram quando tinham a minha idade.

Há lá Piratas mãe? "Há pois" dizia ela "mas dos bons".
Ah Ah, realmente quando somos pequenos aceitam tudo que nos dizem sem questionar.

Chegou Agosto e a grande viagem.

Os meus pais ainda não tinham carro nessa altura, e assim a viagem foi feita de comboio.



A aventura começou no Cacem, pois a viagem era pela linha do oeste até a Figueira da Foz e ai apanhar outro comboio até Coimbra.

Estranho era o comboio, diferente dos que até à Grande Cidade levavam as pessoas.

Este tinha uma máquina que deitava fumo e andava a carvão.

A viagem foi longa, mas linda por passagens em terras desconhecidas para mim. Que Bonito era tudo, os campos, as terras, os animais a pastarem, os rios grandes e as estações onde ele parava, cheias de azáfama e constante entra e sai de passageiros e trabalhadores dos Caminhos de Ferro.

De cada vez que o comboio retomava o seu caminho e saia da estação, apitava com esplendor e garra...PIIIIIPIIIIII PúPúPú pouca terra pouca terra, parecia dizer ele...


Na nossa carruagem, as malas e bagagens amontoavam-se nos postigos e os bancos desconfortáveis e duros, iam cheios de pessoas desejosas de chegar ao destino.

Adorei a viagem, para um puto com 6 anos, era algo fascinante e maravilhoso.

Acho que devido a essas viagens, ainda hoje é uma das minhas paixões.
O mundo ferroviário.

fevereiro 27, 2008

25 de Abril - Revolução dos Cravos


Naquele tempo as vozes contra a Politica levada a cabo pelo Regime, eram muitas, e o Povo queria mudanças.
Viviam-se tempos de instabilidade e medo.

Na minha família, nunca ouve problemas com a Policia politica.

Eram pessoas oriundas de família humildes, da província, e a este a Pide nada queria, pois achavam nada temer.

Depois de mais uma noite de trabalho, numa unidade hoteleira lá prós lados do Camões, em Lisboa, o meu pai ao chegar a casa contou a minha mãe que algo se estava a passar na Grande Cidade.

No caminho que tomava tanto para ir como para vir do trabalho, passando no largo do Chiado, nessa manha de 25 Abril de 1974, constatou enorme confusão, muita gente e Militares por todo o lado.

Deixando a minha mãe tranquila, pegou em mim e fomos os dois para a Grande Cidade. Apesar de nada entender do que se estava a passar, fiquei encantado com a ideia de ir de comboio até Lisboa.

Talvez por lá encontra-se os meus primos, agora que raramente os via. Será que os navios piratas ainda atracavam na Ribeira das Naus? Teria que lhes perguntar.


Ao chegar, deparamos com ruas cheias de pessoas, militares a reboque dos seus Chaimites e Tanques.

O largo do Chiado estava repleto de gente. Nunca tinha visto tanta gente junta.

Nada conseguindo ver, tamanha confusão, o meu pai, que naquele momento se tornou meu herói, pôs-me as suas cavalitas, para eu poder ver melhor e salvaguardar-me de eventuais perigos.


Os militares iniciaram a revolução que derrubou, em apenas um dia, o regime político que vigorava em Portugal desde há muito tempo.

Nesse dia 25 de Abril de 1974, ficou marcado na memória de todos os portugueses como “o dia mais dia de todos os dias”, sem qualquer tarde cantada por Carlos do Carmo ou Zeca Afonso.

Chegaram ao fim noites escuras de opressão e tortura levada a cabo pelo regime salazarista. Os militares não encontraram grande resistência das forças leais ao governo, uma vez que estas acabaram por ceder e se juntar ao movimento popular.


A “Revolução dos Cravos” foi conduzida pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (Movimento das Forças Armadas), na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial.

Nesse dia, a liberdade foi devolvida ao povo português, denominando-se “Dia da Liberdade” o feriado instituído em Portugal para comemorar a Revolução.

Um Dó Li Tá

A nova realidade familiar era passada longe daqueles que durante 4 anos via diariamente, longe da Grande Cidade, longe de Tios e Primos, longe dos amigos e das brincadeiras do pátio, das ruelas e do elevador vai acima vai para baixo do elevador da Bica.

Longe dos barcos de piratas, navegando no rio que ia cheio em tardes de calor tórrido do verão passado.

Já me ia esquecendo, longe da casa da D. Olga, onde o papagaio que tinha no poleiro á porta de casa, dizia sempre a alguém que com ele se metia, Viva o Benfica.

Nesse verão de 1972, o rumo da história passou a ser outro, pois novas amizades se fizeram, aventuras e correrias, jogos e diabruras, eram uma realidade presente longe de outros que antes faziam as delícias das brincadeiras para miúdos de 4 anos.

No bairro onde nós morávamos, os casais novos, tal como os meus pais, tinham filhos como eu, pequenos e havidos de brincadeiras e longas tardes passadas na rua, onde a imaginação fértil destas idades não tem medos nem receios.

Rapazes e raparigas, brincavam com o que havia, tudo servia para construir fortes castelos, esconderijos secretos e passagens subterrâneas para o desconhecido.

Nas traseiras dos prédios, ainda se encontrava muito material desperdício das obras de construção dos prédios. Havia por lá madeiras, tijolos, plásticos, tudo coisas que em mãos pequenas se transformam em mágicos brinquedos.

Já com 5 anos, na primavera de 1973, um acontecimento deixou marcas, que ainda hoje relembro.

Uma caixa de madeira, era usada como barco há vela, navegando em mares agitados e baloiçando ao sabor das ondas.

Num desses vaivéns, a caixa tomba e a minha cabeça pequena de um miúdo traquina que era, vai de encontro à perna partida de um tanque de lavar roupa, em cimento, deixando um lanho do tamanho do mundo.

O sangue corria de tal maneira, que a correria para a enfermaria dos bombeiros locais foi rápida.

A berraria de uma criança desta idade, deixou tamanha loucura naquele local, que nem a ajuda de 2 bombeiros chegaram para acalmar tamanha dor, e dar paz ao enfermeiro para passar 3 pontos cruz em cabeça pequena de miúdo traquina.

A minha querida mãe teve pena de mim e das minhas veias a rebentarem com tamanhos grunhidos de agonia, e pediu para não o fazerem e tentar-se a cura de outra forma.

Um penso diário, mudado com carinho e desinfectado a mercurocromo, foi a solução encontrada e que fez daquele dia o pior da minha ainda curta aventura neste mundo a que chamamos Terra.

De volta às aventuras lúdicas de pequenas crianças, os cuidados agora eram outros, pois a experiencia passada deixou marcas.

Numas escavações arqueológicas desenvolvidas pela malta, encontrei uma moeda de 1 Escudo.

Grande tesouro me tinha saída naquela aventura de mãos sujas e pernas arranahdas de pedras e silvas.

Na inocência da idade, perguntei aos meus amigos se era de alguém, aparecendo logo um matulão de idade avançada a dizer que era dele e a tinha perdido.

Ainda hoje acho que fui enganado.

fevereiro 26, 2008

Mudar de ares, malas e bagagens para os lados de Sintra

Em meados de 1972, os meus pais sentiram a necessidade de mudar de casa, pois o espaço já era pequeno com a chegada á bica de outros tios meus, que entretanto se casaram.
O ciclo voltava a ser o mesmo.

Naquele tempo o meio de transporte rápido, seguro e directa à Grande Cidade de Lisboa, era o comboio.


Numa viagem de fim-de-semana, onde ir a banhos ás Maças e provar umas belas queijadas e beber um chá das 5, na Villa de Cintra, terra de lendas e encantos que em tempos Camões escreveu versos e prosas, sobre suas serras, Castelos e belas Donzelas, era romântico, levou os meus pais a constatarem que se desenvolviam novas localidades nessa zona, subúrbio de Lisboa

Onde outrora campos e quintas senhoriais eram uma realidade visível, agora floresciam grandes casas, prédios da nova era, em que a casa de banho era uma realidade e os olhares do alto das suas varandas deixavam qualquer pessoa na rua parecer uma formiguinha.

Uns dias mais tarde, após reflectirem, puseram pés ao caminho e numa viagem de pesquisa, encontraram o novo local para tornar feliz a família entretanto constituída.


Origem do Nome

O nome “Agualva” deriva de “Agua alba”, do latim “Aqua Alba” e a primeira referência que lhe é conhecida remonta às Inquirições Afonsinas de 1220.

A designação deriva da limpidez que há muitos séculos caracterizou a água das ribeiras que atravessa a freguesia.

História O povoamento do território da freguesia remonta à conquista Cristã de Lisboa e Sintra aos Mouros, em 1147, por D. Afonso Henriques. A primeira referência conhecida surge nas inquirições Afonsinas de 1220.

No século XII, “Águalva ” e Cacém já eram povoadas. O curso da ribeira das Jardas ou da Água Alva demarcavam então os limites administrativos e paroquiais. Agualva e outros lugares da margem esquerda da Ribeira faziam parte da freguesia de Belas, enquanto Cacém, São Marcos e outros lugares da margem direita estavam integrados no termo de Sintra e faziam parte da freguesia de Rio de Mouro.

Note-se que Agualva, enquanto lugar da freguesia de Belas era lugar conhecido por Jardo, o que levou o célebre Bispo de Lisboa, D. Domingos, por ter nascido ali, a apelidar-se de Jardo. Nos séculos seguintes expandiu-se o povoamento e a ocupação do território com o aparecimento de várias quintas solarengas (Quinta da Barroca, Quinta da Fidalga, Quinta do Tojal, etç) novos casais agrícolas e a Feira de Agualva, uma das mais antigas da região saloia, que se realiza desde 1713.

(fonte: J.F. Agualva)


Vou contar o inicio da minha história

Tinha iniciado recentemente o ano de 1968, quando nasci para a vida, na mui nobre e linda cidade de Lisboa, capital de um país a atravessar um grave crise de ditadura, imposta pelo antigo regime Salazarista.

Até aos 4 anos, os meus pais viveram num dos bairros mais típicos de Lisboa, o bairro da Bica. A beleza divina do rio Tejo, entrava-nos pelas enormes janelas da sala, banhando-nos com uma gratidão de prazer onde as gaivotas eram presença constante nos beirados das varandas e os raios de sol entram em manhas solarengas.

A casa arrendada numas águas furtadas, tinha muitas divisões, e juntamente com uns tios e primos, vivia-se os dias com alegria e prazer, pois a grande cidade abraçava os seus, que nela vinham em busca de melhor vida.

Naquele tempo, as famílias oriundas da província, não tendo dinheiro para poder suportar uma renda, ou a compra de uma casa própria, utilizavam esta situação até darem andamento melhor a sua família.

Quando era pequeno, só sabia estar a janela, com o meu primo Luís, a imaginar grandes batalhas navais, onde os cacilheiros eram inimigos oriundos de longes mares, repletos de piratas perna de pau prontos a desafiar o nosso reino em busca de tesouros imaginários.

Os dias corriam Felizes, e os pequenos petizes, repartiam as suas brincadeiras, também num pátio interior que naquele tempo os prédios antigos tinham, e onde as valorosas Mães, árduas tarefeiras domésticas, lavavam e estendiam a roupa.
As balizas pintadas no duro cimento do chão, as casas imaginárias de índios e cowboys, as pistas de caricas e carrinhos de linhas, faziam as delícias de crianças que naquele prédio viviam, e que no pátio desaguavam para tardes de brincadeiras infinitas.

Como na maioria dos casais daquela altura, o meu pai era a força motora do trabalho fora de casa, onde o salário era ganho com suor e árduo esforço.

fevereiro 25, 2008

O inicio de uma nova aventura

Pois é,

O inicio desta aventura "blogista" tem inicio com estas palavras.

Farei deste bog um projecto continuado de vida que me tem dado muita alegria, prazer e amor para dar e receber.

Vou usar este meio para escrever, ideias, mensagens, pensamentos e opiniões que tive, tenho e poderei vir a ter.

Um saudavel cumprimento para todos