fevereiro 28, 2008

Pú Pú... Pouca Terra pouca Terra

Os dias, semanas, meses após a revolução, trouxeram a alegria as pessoas, o povo andava feliz, sentia-se desanuviar o peso de anos e anos de opressão.

Era altura de grandes manifestações, de pessoas que voltavam, depois de anos longe dos seus.

O meu pai dizia-me que foram obrigados a fugir para o estrangeiro, por causa dos senhores que mandavam na polícia, que eram maus.

As traseiras do prédio onde viviam, continuavam a ser palco para grandes brincadeiras de miúdos sem grande responsabilidade, com o jogo da carica, a bola, os pauzinhos, pequenos carrinhos, berlindes a fazerem as delícias de todos nós.

As mães passavam um bocado, pois a malta só queria a rua, roupas limpas e cheirosas vestidas pela manhã chegavam ao fim do dia em estado lastimoso.

Xixi, Banheira, Jantar e Cama, pois os dias eram realmente longos e bem passados.

Naquele ano de 1974, o meu pai tirou as férias para irmos à terra. Para mim era novidade, pois não entendia o que isso era.

Contou-me a minha mãe que eles nasceram num sítio muito longe, e que agora iam lá para ver os meus Avôs e conhecer a casa onde eles viveram quando tinham a minha idade.

Há lá Piratas mãe? "Há pois" dizia ela "mas dos bons".
Ah Ah, realmente quando somos pequenos aceitam tudo que nos dizem sem questionar.

Chegou Agosto e a grande viagem.

Os meus pais ainda não tinham carro nessa altura, e assim a viagem foi feita de comboio.



A aventura começou no Cacem, pois a viagem era pela linha do oeste até a Figueira da Foz e ai apanhar outro comboio até Coimbra.

Estranho era o comboio, diferente dos que até à Grande Cidade levavam as pessoas.

Este tinha uma máquina que deitava fumo e andava a carvão.

A viagem foi longa, mas linda por passagens em terras desconhecidas para mim. Que Bonito era tudo, os campos, as terras, os animais a pastarem, os rios grandes e as estações onde ele parava, cheias de azáfama e constante entra e sai de passageiros e trabalhadores dos Caminhos de Ferro.

De cada vez que o comboio retomava o seu caminho e saia da estação, apitava com esplendor e garra...PIIIIIPIIIIII PúPúPú pouca terra pouca terra, parecia dizer ele...


Na nossa carruagem, as malas e bagagens amontoavam-se nos postigos e os bancos desconfortáveis e duros, iam cheios de pessoas desejosas de chegar ao destino.

Adorei a viagem, para um puto com 6 anos, era algo fascinante e maravilhoso.

Acho que devido a essas viagens, ainda hoje é uma das minhas paixões.
O mundo ferroviário.

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