fevereiro 27, 2008

Um Dó Li Tá

A nova realidade familiar era passada longe daqueles que durante 4 anos via diariamente, longe da Grande Cidade, longe de Tios e Primos, longe dos amigos e das brincadeiras do pátio, das ruelas e do elevador vai acima vai para baixo do elevador da Bica.

Longe dos barcos de piratas, navegando no rio que ia cheio em tardes de calor tórrido do verão passado.

Já me ia esquecendo, longe da casa da D. Olga, onde o papagaio que tinha no poleiro á porta de casa, dizia sempre a alguém que com ele se metia, Viva o Benfica.

Nesse verão de 1972, o rumo da história passou a ser outro, pois novas amizades se fizeram, aventuras e correrias, jogos e diabruras, eram uma realidade presente longe de outros que antes faziam as delícias das brincadeiras para miúdos de 4 anos.

No bairro onde nós morávamos, os casais novos, tal como os meus pais, tinham filhos como eu, pequenos e havidos de brincadeiras e longas tardes passadas na rua, onde a imaginação fértil destas idades não tem medos nem receios.

Rapazes e raparigas, brincavam com o que havia, tudo servia para construir fortes castelos, esconderijos secretos e passagens subterrâneas para o desconhecido.

Nas traseiras dos prédios, ainda se encontrava muito material desperdício das obras de construção dos prédios. Havia por lá madeiras, tijolos, plásticos, tudo coisas que em mãos pequenas se transformam em mágicos brinquedos.

Já com 5 anos, na primavera de 1973, um acontecimento deixou marcas, que ainda hoje relembro.

Uma caixa de madeira, era usada como barco há vela, navegando em mares agitados e baloiçando ao sabor das ondas.

Num desses vaivéns, a caixa tomba e a minha cabeça pequena de um miúdo traquina que era, vai de encontro à perna partida de um tanque de lavar roupa, em cimento, deixando um lanho do tamanho do mundo.

O sangue corria de tal maneira, que a correria para a enfermaria dos bombeiros locais foi rápida.

A berraria de uma criança desta idade, deixou tamanha loucura naquele local, que nem a ajuda de 2 bombeiros chegaram para acalmar tamanha dor, e dar paz ao enfermeiro para passar 3 pontos cruz em cabeça pequena de miúdo traquina.

A minha querida mãe teve pena de mim e das minhas veias a rebentarem com tamanhos grunhidos de agonia, e pediu para não o fazerem e tentar-se a cura de outra forma.

Um penso diário, mudado com carinho e desinfectado a mercurocromo, foi a solução encontrada e que fez daquele dia o pior da minha ainda curta aventura neste mundo a que chamamos Terra.

De volta às aventuras lúdicas de pequenas crianças, os cuidados agora eram outros, pois a experiencia passada deixou marcas.

Numas escavações arqueológicas desenvolvidas pela malta, encontrei uma moeda de 1 Escudo.

Grande tesouro me tinha saída naquela aventura de mãos sujas e pernas arranahdas de pedras e silvas.

Na inocência da idade, perguntei aos meus amigos se era de alguém, aparecendo logo um matulão de idade avançada a dizer que era dele e a tinha perdido.

Ainda hoje acho que fui enganado.

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